Na ‘Wuhan do Equador’, mais de 700 mortos são recolhidos em 24 horas

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População de Guayaquil abandona caixões em ruas e casas e divulga as ações na internet. Brigada remove corpos das residências e enterra 600 na Páscoa

O governo do Equador informou que mais de 700 corpos foram retirados de residências e ruas da cidade de Guayaquil em 24 horas até o domingo de Páscoa (12). “A quantidade que recolhemos superou 700 pessoas falecidas”, declarou Jorge Wated, coordenador da brigada de policiais e militares criada a pedido da presidência daquele país para executar a tarefa, ao jornal digital argentino Infobae.

Seiscentos corpos foram identificados no primeiro dia e enterrados em dois cemitérios locais. As mortes ocorreram nas últimas três semanas. As autoridades não puderam confirmar se todas as mortes estão relacionadas à pandemia de coronavírus, mesmo porque pouquíssimos corpos tiveram material recolhido para teste. Mas deixaram claro que a grande maioria é de vítima do surto.

Cidade portuária com cerca de 2,3 milhões de habitantes, Guayaquil passou a ser chamada de “Wuhan do Equador”, uma referência à metrópole chinesa epicentro da pandemia mundial do covid-19 entre seres humanos. A província equatoriana de Gayas, que abriga o município, concentra 72% dos infectados do país. Guayaquil tem mais de quatro mil doentes.

População ajuda no resgate de mortos em Guayaquil no Domingo de Páscoa

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Reuters

Nas últimas três semanas, militares e policiais da cidade iniciaram a retirada de corpos das casas de Guayaquil após uma pane por sobrecarga nos sistemas funerário e de cartórios do município. Pressionados, os moradores passaram a divulgar, na internet, fotos e vídeos de corpos de familiares, amigos e vizinhos abandonados nas ruas, e também pedidos de ajuda para enterrá-los.

Diante das limitações econômicas e logísticas vividas pela população, o governo equatoriano assumiu a tarefa de sepultar os corpos. Com 333 mortes e 7,5 mil casos oficialmente confirmados desde o anúncio do primeiro caso de covid-19, no último dia 29 de fevereiro, o Equador é o segundo país da América Latina mais afetado pela pandemia, atrás apenas do Brasil.

Mas as autoridades admitem publicamente que esses dados estão fortemente subnotificados. A quantidade de infectados, doentes e mortos é consideravelmente maior, e os 700 corpos retirados de Guayaquil em apenas 24 horas confirmam a tese, ainda que a pandemia não tenha provocado todas as mortes. O coordenador Wated estima que a província de Guayas registrará entre 2,5 mil e 3,5 mil mortes por coronavírus nos próximos meses, a maioria delas em Guayaquil.

O vice-presidente do Equador, Otto Sonnenholzner, afirma que a situação de Guayaquil e Guayas é distinta da verificada na grande maioria das cidades do país, onde, segundo ele, saem atualmente mais pacientes do que entram nos serviços de urgência.

Sobras perigosas de quem lida com infectados e mortos estão por toda a cidade

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Reuters

Os prejuízos econômicos também geram preocupação no vice-presidente. Sonnenholzner admite que, no pior dos cenários, a economia equatoriana poderá sofrer um forte baque, de dez a 12 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), nos próximos seis meses.

Seriam entre dois e três pontos percentuais de prejuízo médio mensal para a economia equatoriana, gerados, sobretudo, por investimentos diretos em emergência sanitária e social, diminuição drástica da atividade comercial e queda aguda do preço internacional do petróleo, um dos principais produtos de exportação daquele país. O Banco Mundial calcula que o PIB da América Latina despencará no mínimo 4,6% em 2020.

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