Especialista explica que apps não geram transtornos, mas podem agravar quadro de quem já sofre com ansiedade e depressão
A comodidade de comprar algo com apenas um toque pelo aplicativo no celular facilita a rotina e tornou plataformas como o iFood, Shopee ou Shein ainda mais populares na pandemia em Mato Grosso do Sul. É verdade que os aplicativos são muito importantes na correria do dia a dia, mas a tentação de receber um ‘mimo’ pelos Correios ou provar de uma boa comida no final de um dia de trabalho podem acabar levando a problemas – desde a gastos excessivos até uma compulsão por compras.
Com preços atrativos, cupons e até entrega grátis, fica difícil resistir à tentação de se presentear depois de um dia ou semana estressante. “Eu mereço”: é o que muita gente pensa ao comprar comida pronta, roupas, acessórios, eletrônicos ou outros itens pelos aplicativos no celular.
Essa felicidade ao receber uma comprinha pelos Correios ou uma comida deliciosa no portão de casa, levou Amanda* a um limite. A personagem na matéria preferiu não se identificar, mas relata como viu a fatura do cartão dobrar depois de ceder a pequenos prazeres nas compras online. “Comprar dá essa sensação de felicidade, mas é momentânea. Você recebe a compra e já começa a pensar na próxima. É muito bom chegar em casa e ter um pacote te esperando”, diz.
Amanda* trabalha o dia todo fora e quem acaba recebendo as encomendas são os vizinhos. Ela relata que não considera uma compulsão, afinal, nunca chegou a ter problemas ou dívidas por conta do hábito. Entretanto, confessa que é preciso controlar a vontade de fazer novos pedidos.
“Você compra uma coisinha aqui e outra ali, pede uma comida um dia e outro também, quando vai ver já deu um número alto na fatura”, brinca.
Quando o hábito se torna um problema?
Os aplicativos de compras por si sós não são a causa de uma compulsão pelo consumo. Contudo, pessoas que lidam com angústia, ansiedade e depressão podem acabar tendo uma piora no quadro.
O psicólogo Robson Verão explica que se a pessoa está bem e emocionalmente estável, não há problemas em fazer uso da tecnologia para facilitar a vida. “Se a pessoa está bem, consciente da utilização do aplicativo, vai ser proveitoso. Os aplicativos trazem facilidades que auxiliam na nossa vida cotidiana”.
O psicólogo Élcio Araújo aponta que quando compramos online, não vemos o dinheiro ‘ir embora’, o que acaba passando uma falsa sensação de poder e riqueza. A compra dá prazer, ao estar associada ao sentimento de possuir algo. O especialista reforça que a posse pode despertar a inveja no outro, sinal de status.
“São estes pensamentos e sentimentos que podem despertar uma compulsão. Outra questão é que [a compra] pode servir para preencher um vazio e angústia do sujeito”.
Para identificar se o hábito de consumo é saudável, é simples. O psicólogo Robson Verão explica que é preciso identificar se as compras trazem algum prejuízo à pessoa, como dívidas ou dificuldade em fechar as contas. “Se for o caso, faço duas orientações: entender sua situação financeira, buscando a área das finanças para instruir de alguma forma. E, se tiver transtorno, buscar psicólogos para entender causas e motivos”, orienta.
Araújo também comenta que o consumo saudável inclui consumir itens sem passar por privações. “Quando eu passo a consumir mais do que preciso, é bom ficar atento. Procure ajuda de um psicoterapeuta, para poder entender o porquê desse consumo exagerado, o que pode estar relacionado ao passado. Por exemplo, pessoas que foram muito pobres e querem mostrar que deram a volta por cima”, conclui o psicólogo.