Cerca de 11 indígenas Guarani e Kaiowá ficaram feridos após serem alvos de tiros de bala de borracha durante uma ação da Polícia Militar na área de retomada da comunidade indígena Guyraroká, em Caarapó, nesta sexta-feira (18). Uma das vítimas é Valdelice Veron, considerada uma das principais vozes da etnia em Mato Grosso do Sul. As informações são dos próprios indígenas.
Conforme apurado pela reportagem, Valdelice estava com outros 10 indígenas da comunidade Guyraroká quando os disparos ocorreram. Segundo uma fonte que pediu para não ser identificada, a indígena levou dois tiros de bala de borracha — um na barriga e outro no peito —, foi socorrida no local, medicada e passa bem.
Ela não foi encaminhada ao hospital e retornou à área de retomada ainda na sexta-feira. Os outros feridos também teriam recebido cuidados paliativos na própria comunidade.
Conforme o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), os tiros partiram da Tropa de Choque da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul). Vídeos mostram o momento em que viaturas policiais se aproximam dos indígenas que estavam no local.
Ainda segundo o próprio conselho, o conflito ocorreu depois que os indígenas, na quinta-feira (16), decidiram bloquear uma estrada vicinal para impedir a entrada do maquinário de arrendatários de uma fazenda que querem plantar na área ocupada pelos Guarani-Kaiowá e que estariam lançando agrotóxicos indiscriminadamente sobre a comunidade.
Em nota, a PMMS informou que utilizou “meios não letais, como agentes químicos e elastômeros”, após os veículos serem supostamente atacados pelos indígenas. A Polícia Militar também informou ter ido ao local para dar apoio ao comunicante de um boletim de ocorrência e restabelecer a tranquilidade, diante do risco à segurança dos envolvidos e à ordem pública.
A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PMMS) realizou, na sexta-feira (17/10), a Operação Campo Seguro, na zona rural do município de Caarapó, com o objetivo de restaurar a ordem pública e garantir segurança e paz na região. A ação foi iniciada após o registro de um boletim de ocorrência relatando a presença de um grupo de indígenas armados ocupando a área e impedindo o acesso de funcionários.
As equipes policiais foram até o local para prestar apoio ao comunicante e restabelecer a tranquilidade, diante da situação de risco à segurança dos envolvidos e à ordem pública. Durante a operação, um grupo de indígenas teria investido contra as guarnições, danificando diversas viaturas. Para conter os ataques e preservar a integridade de todos os presentes, os policiais fizeram uso de meios não letais, como agentes químicos e elastômeros, conforme os protocolos operacionais da PMMS.
A corporação informou ainda que, ao fim da ação, duas armas de fogo que estavam com os indígenas foram apreendidas. A PMMS reforçou seu compromisso com a manutenção da ordem pública, a segurança da população e o cumprimento da lei, “atuando sempre de forma técnica, legal e proporcional”.
O Ministério dos Povos Indígenas (MPI), por meio do Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Fundiários Indígenas (DEMED), juntamente com a FUNAI, acompanha a situação e está em contato com lideranças locais para garantir o registro de denúncias, o mapeamento dos impactos e a proposição de soluções eficazes. O MPI repudiou qualquer ato de violência contra os indígenas e afirmou estar acionando os órgãos responsáveis para garantir a segurança das comunidades.
Os indígenas da comunidade Guyraroká retomaram a área da fazenda Ipuitã no dia 21 de setembro deste ano. Eles reivindicam o fim da pulverização e agrotóxia sobre a cumunidadee, principalmente, a demarcação da terra indígena.
Em 2009, a União reconheceu que as terras onde está localizada a fazenda pertencem aos indígenas. No entanto, em 2016, essa decisão foi revertida, e o processo segue em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Os Guarani e Kaiowá lutam pela retomada da terra desde 1999.
Um relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) aponta que a terra declarada tem 11 mil hectares. Apesar disso, cerca de 200 indígenas vivem atualmente em apenas 50 hectares, em um “acampamento provisório e sem condições de dignidade”.
Em 2019, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), concedeu uma medida cautelar (ainda vigente) exigindo que o Estado brasileiro tome providências para proteger o direito à vida e à integridade física dos Guarani e Kaiowá da comunidade Guyraroká.
Na época, a comissão considerou que os indígenas viviam sob constante ameaça, expostos a abusos e atos de violência “supostamente por parte de fazendeiros, no contexto de uma disputa pela propriedade da terra”.









