Espécie de serpente exclusiva do Pantanal, a Helicops boitata não é vista nos alagados do bioma desde os incêndios que varreram a maior planície alagável do planeta, em 2020. Naquele ano, só foram encontrados exemplares mortos da cobra d’água endêmica do Pantanal, que corre sério risco de extinção.
Boitata faz referência à figura folclórica e lendária da cobra de fogo gigante que habita os rios do Brasil e protege as florestas das queimadas provocadas pelo homem (Boitatá).
A situação crítica da espécie foi retratada no estudo”Ofogo e a hipertofauna no pantanal, realizado por pesquisadores do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), da UFG (Universidade Federal de Goiás), da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e do INPP (Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal).
Apesar do sumiço da espécie, ainda resta esperança de que a Helicops boitata resista no bioma. A espécie é semiaquática, possui hábitos noturnos e pode se enterrar, o que pode justificar a falta de avistamentos. O estudo foi realizado na planície alagável do Pantanal brasileiro, nos limites dos municípios de Poconé e Barão de Melgaço, após o período crítico de incêndios.
Diante da ameaça iminente de extinção da espécie, os pesquisadores sugeriram alternativas para tentar mapear em detalhes a incidência da cobra no Pantanal.
“Há necessidade de projetos específicos para amostragem dessa espécie, permitindo a obtenção de estimativas populacionais e dados mais robustos sobre o estado de conservação dela. Por exemplo, a busca desse grupo em estudos de DNA ambiental poderá auxiliar a reduzir problemas de detecção. Outra possibilidade são projetos de ciência cidadã com a participação da comunidade local para o aprimoramento das armadilhas de covo utilizadas no monitoramento, uma vez que é sabido que a pesca de isca realizada na região comumente amostra serpentes aquáticas.”Trecho do estudo “O fogo e a herpetofauna no Pantanal”.
Características da espécie
A Helicops boitata foi encontrada pela primeira vez por quatro biólogos durante um passeio pela Transpantaneira, em 2016. A descoberta da espécie foi divulgada no artigo “Acaso, sorte e um feliz encontro”, publicado em 2018:
A cobra tem o dorso com manchas escuras, o ventre com manchas alaranjadas formando linhas irregulares, e o formato da cabeça que a difere das demais cobras d’água.