Plataformas tiveram redução de 30% no número de profissionais em dois anos
Campo Grande chegou a ter 10 aplicativos de mobilidade funcionando no auge, em 2019, quando a gasolina ainda estava na casa dos R$ 4. O cenário mudou e o número caiu para 3. As plataformas perderam cerca de 30% dos profissionais nesse período, que migraram para motoentregas.
De lá para cá muita coisa mudou. A demanda continua em alta, porém, a escalada no preço dos combustíveis e a insatisfação dos profissionais que atuam nesses aplicativos fez com que a maioria minguasse até sucumbir. Até mesmo plataformas de notoriedade nacional como a Urban e Vaptvupt não resistiram e deixaram de funcionar na cidade.
Um dos representantes do sindicato dos motoristas de aplicativo, Paulo Pinheiro, explica como a redução de motoristas afetou as operações das plataformas. “Tínhamos em torno de 12 mil motoristas trabalhando na época do auge, quando tinham vários aplicativos. Hoje, seguramente, 30% já não estão mais no mercado. Antes da crise, o tempo de espera do passageiro era de 3 a 4 minutos, hoje subiu para 7 a 8 minutos, infelizmente”, pontuou.
Paulo Pinheiro – Foto: Arquivo pessoal
O motorista explica o enfraquecimento das plataformas. “Muitos se aventuraram em montar essas plataformas para atender aos passageiros, mas, para a coisa acontecer, a realidade é outra”.
Outras empresas que encerraram as operações em Campo Grande são: Motora, RodeGanhe, Me Leva Agora, 7áxi, Mibusk e Waze Carpool.
Para o motorista de aplicativo que também é um dos líderes da categoria em Campo Grande, Fuad Salamene, muitas dessas plataformas enganaram os profissionais. “E fomos muito enganados pelos app do MS, a Urban fez recarga em massa e depois fechou, a Motora deixou 6 meses de graça, mas depois começou cobrando 10%, 20% e terminou cobrando 40% da tarifa em cima do motorista”, relata.
Profissão em baixa
Em dois anos, a realidade mudou. A chegada da pandemia da covid em MS, em março de 2020, até impulsionou o uso de aplicativos de mobilidade por parte da população, porém, os reflexos da crise econômica abalaram o segmento.
Desde 2019, quando Campo Grande vivia o auge dos aplicativos, o preço da gasolina subiu 44%, passando da média de R$ 4,08 para R$ 5,90. Somado a isso, os reajustes aplicados pelas empresas são considerados ‘irrisórios’ pelos motoristas.
Muitos motoristas de aplicativo estão migrando para delivery de moto – Foto: Marcos Ermínio / Midiamax
“Diminuiu muito o número de motoristas. Muitos estão indo trabalhar como motoentregador, porque compensa mais. Moto gasta muito pouco de gasolina, a manutenção é quase nada, então, não pesa no orçamento do pessoal. Muitos estão atendendo 2 ou 3 estabelecimentos em um dia como farmácias, autopeças, pizzarias e restaurantes. Se tornou um trabalho importante na pandemia”, pontuou Pinheiro.
Luta por incentivos
Desde que a situação começou a ficar mais difícil para os motoristas de aplicativo, a categoria iniciou série de mobilizações em março deste ano, com objetivo de conseguir reajustes e condições melhores de trabalho.
Uma das pautas foi a redução do ICMS sobre gasolina em MS, que tem uma das maiores alíquotas do país. Apesar dos protestos, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) não concedeu a redução, que poderia melhorar o rendimento desses profissionais.
Para fugir da alta desenfreada da gasolina, a classe está em busca de incentivos para a instalação do GNV, que reduz os custos e aumenta o lucro dos motoristas. A discussão já foi iniciada com a MSGás, que propôs a mesma política que tem com os clientes de gás natural, incentivar a instalação de equipamento. Inicialmente, a ideia é oferecer um voucher no valor de R$ 2 mil como forma de incentivo aos motoristas para adaptarem os veículos.