Enfermeira trabalha na Prefeitura e se tornou ‘assunto’ nas redes sociais por conta da politização em torno da Coronavac
A vacina contra a covid-19 ganhou proporções políticas no Brasil a partir do momento que o governo federal, comandado por Jair Bolsonaro (sem partido), hora não defendeu a Coronavac e hora passou a promover uma política negacionista ligada ao novo coronavírus e seus impactos. Do outro lado, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), que tem aspirações para o Planalto, passou a negociar as tratativas com a China e a Sinovac para trazer a Coronavac ao Brasil. Entre os dois, houve algumas alfinetadas. No meio disso, ficou a população, que se divide entre ser vacinada ou não. Porém, o que há de consenso geral é que a contaminação da covid-19 está atrapalhando a vida das pessoas e a economia.
Com esse cenário, a enfermeira na Prefeitura de Corumbá Marilda Aparecida Alves dos Santos segue trabalhando atendendo pacientes no município. Por estar na linha de frente de enfrentamento à covid-19, vivenciar diariamente os desafios da profissão nos tempos atuais e ainda participar indiretamente das tensões que pacientes e familiares vivem, ela foi vacinada nesta quarta-feira (20) com a primeira dose da Coronavac. No dia da vacina, vestiu uma camiseta “#forabolsonaro” e que tem também o rosto do presidente da República.
A foto foi publicada no Facebook e na cidade ganhou algumas dezenas de curtidas e outros tantos comentários. Ela fez um protesto silencioso, mas com repercussão nacional. A imagem foi parar em vários perfis no Instagram que criticam o governo de Jair Bolsonaro, alguns com quase 1 milhão de seguidores.
Por conta dessas publicações de alcance nacional, houve uma “chuva” de mensagens. A grande maioria de apoio pelo ato. “Minha cidade é f*** demais”, escreveu Jefferson Gonçalves. “Musa da enfermagem! Lindaaa”, comentou Ludimilla Dias. “Orgulho de ser sul-mato-grossense”, enviou Anicmess. “Minha terra nunca decepciona!!!! Corumbaenses com orgulho”, postou Lauriana.
Irmão de Marilda, Jorge Eremites de Oliveira, professor doutor em História/Arqueologia, contribui para a imagem ganhar o Brasil. “Ontem, a minha irmã, que é enfermeira em Corumbá, MS, sofreu pressão para retirar das redes sociais a foto dela tomando a 1ª dose da CoronaVac. A imagem é dedica à memória das mais de 212 mil pessoas mortas pela Covid, incluindo colegas de trabalho”, ele comentou no Instagram.
Marilda não polemizou com palavras. A profissional, formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e antes teve passagens por duas escolas estaduais, não fez questão de criar “textão” ou fazer comentários. Somente manteve as fotos tiradas em sua rede social e segue trabalhando no enfrentamento da covid-19 em Corumbá.
A cidade já teve a confirmação de 7.798 pessoas infectadas desde março do ano passado. Os casos ativos em Corumbá atualmente são de 727 pacientes contaminados. A ocupação de leitos UTI SUS está em 42% e há 24 leitos disponíveis. O total de mortes registrado no município é de 216 moradores, o que deixa o nível de letalidade da doença em 2,8%, um dos mais altos de Mato Grosso do Sul.
Em Corumbá, a Coronavac está sendo aplicada apenas em profissionais de saúde que atuam na linha de frente de enfrentamento do novo coronavírus e em indígenas. A quantidade enviada para a cidade pelo Ministério da Saúde, que detém o direito de distribuição da vacina, não é suficiente para atender todos os funcionários que trabalham na saúde. Por isso, a Prefeitura de Corumbá precisou fazer uma seleção das pessoas a serem vacinadas. São duas doses a serem aplicadas.