Aborto, AVC e até morte: infectologista alerta para possíveis complicações do ‘tratamento precoce’

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Por conta dos relatos que vem fazendo de complicações de pacientes com Covid que fazem o uso de remédios sem eficácia comprovada contra a doença, casal de médicos passou a ser atacado nas redes sociais

Intoxicação aguda, hepatite medicamentosa, AVC, enfarto, aborto e até mesmo mortes. Essas são apenas algumas das complicações de pacientes que usaram medicamentos do chamado “tratamento precoce” ou “preventivo” contra a Covid-19 que foram relatadas por profissionais de saúde e que podem estar associadas, direta ou indiretamente, ao uso dessas substâncias.

Apesar da Organização Mundial de Saúde (OMS), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e inúmeros organismos respeitados mundo afora afirmarem e reafirmarem que não existe, até o momento, eficácia em nenhum tipo de “tratamento precoce” contra a Covid-19, o governo de Jair Bolsonaro, através de seu Ministério da Saúde, estimula a prática, inclusive com protocolos para o uso de medicamentos no que veio a se chamar de “kit Covid”. O kit varia de acordo com a cidade e o médico que receita e, na maior parte dos casos, inclui medicamentos como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina – todos sem nenhum tipo de eficácia comprovada contra a doença do coronavírus.

Além da falta de comprovação de eficácia para o uso desses medicamentos no tratamento da Covid, em algumas situações eles podem também gerar essas complicações relatadas por profissionais de saúde. Esses relatos foram enviados ao perfil do Instagram “Casal Infecto”, administrado por dois médicos infectologistas que vêm tentando alertar as pessoas para os riscos que o uso indiscriminado dessas substâncias pode oferecer. O perfil tem quase 80 mil seguidores.

Tassiana Galvão, infectologista que atua em hospitais paulistas na linha de frente do combate ao coronavírus, é uma das administradoras do perfil e concedeu entrevista à Fórum.

De acordo com a médica, ela mesma já se deparou, pessoalmente, com complicações de pacientes com Covid que podem estar relacionadas ao uso desses “kits” incentivados pelo governo.

“Em relação aos efeitos colaterais dos kits precoces eu tive dois pacientes com intoxicação hepática, intoxicação medicamentosa, inflamação no fígado decorrente do uso excessivo de medicações. Meu esposo passou pela mesma situação, temos muitos relatos de outros colegas e já acompanhei nas UTIs onde faço visita de infecção casos de problemas de toxidade pelo uso de medicamentos também”, relatou.

Tassiana explica que, essas medicações, como os vermífugos que incluem no “tratamento precoce”, se utilizadas em situações em que são indicadas, com doses habituais e isoladamente, sem outras doenças associadas, “é muito raro acontecer algum problema”. Mas ela faz o alerta de que todos esses remédios têm, sim, efeitos colaterais, e que a teoria de que os “kits Covid” são eficazes contra a doença tem estimulado a automedicação com dosagens perigosas.

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