Após os policiais, serão chamados os ministros Augusto Heleno, Walter Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos que teriam testemunhado intimidações
O ex-diretor da Polícia Federal,Maurício Valeixo, o diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem, e o ex-superintendente do Rio, Ricardo Saadi, vão depor na próxima semana no inquérito que investiga tentativas de ‘interferências políticas’ do presidente Jair Bolsonaro na corporação. As oitivas estão inicialmente marcadas para a próxima segunda (11), em Brasília e Curitiba.
O ‘número dois’ da PF, Carlos Henrique de Oliveira Sousa, o superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, e o ex-chefe da corporação em Minas, Rodrigo Teixeira, também devem ser ouvidos na semana que vem, em data a ser confirmada.O Valeixo e Saadi estão no centro de atrito citado pelo ex-ministro Sérgio Moro como uma das primeiras tentativas do Planalto em querer trocar o comando da PF no Rio. Em agosto do ano passado, Bolsonaro tentou emplacar o nome do superintendente no Amazonas, Alexandre Saraiva, no lugar de Ricardo Saadi, que deixava o comando fluminense. O presidente alegou que a troca seria por ‘questões de produtividade’, rechaçada pela cúpula da PF.
Alexandre Ramagem, por sua vez, foi o nome indicado por Bolsonaro para substituir Valeixo, cuja exoneração foi o pivô da saída de Moro do governo e a abertura do inquérito no Supremo. O diretor da Abin foi nomeado pelo Planalto, mas não tomou posse por decisão liminar do ministro Alexandre de Moraes. A União revogou a indicação em seguida, e nomeou Rolando Alexandre de Souza para a chefia da PF.
Nesta sexta, a Advocacia-Geral da União pediu a ‘reconsideração’ da decisão que barrou Ramagem. O parecer afirma que a nomeação cumpriu ‘todos os requisitos’ e que a indicação é prerrogativa privada do Presidente da República.
A próxima semana também contará com o depoimento da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), cuja oitiva está marcada para o próximo dia 13. A parlamentar será ouvida por troca de mensagens com Moro em que pede ao ex-ministro que aceite a mudança na direção-geral da PF solicitada por Bolsonaro e, em troca, ela se comprometeria ‘a ajudar’ com uma vaga no STF.
Ministros. A troca do comando da PF é a base do inquérito no Supremo Tribunal Federal que investiga as acusações de Moro contra Bolsonaro. As oitivas foram autorizadas pelo ministro Celso de Mello, decano da Corte e relator do caso, após pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras.
Além dos delegados, três ministros palacianos próximos do presidente deverão ser ouvidos no inquérito: Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Os três foram listados por Moro como testemunhas de ameaças proferidas pelo presidente contra o ex-ministro caso ele não concordasse com a troca da direção-geral da PF.
Heleno, Braga Netto e Eduardo Ramos deverão ser ouvidos após os delegados da Polícia Federal. O prazo para a oitiva é de 20 dias a partir da data da autorização do decano, expedida no dia 5 de maio.
Segundo Moro relatou à PF, os três ministros participaram de duas reuniões em que o presidente Jair Bolsonaro pressionou o ex-ministro da Justiça a trocar o comando da Polícia Federal. Uma delas, no dia 22 de abril, foi gravada pelo Planalto – que já apresentou três pedidos ao decano para que reconsidere ordem para entregar as gravações.
Nesta reunião, Bolsonaro teria dito que iria ‘interferir em todos os ministérios’. “O presidente afirmou que iria interferir em todos os Ministérios e quanto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, trocaria o Diretor Geral e o próprio Ministro da Justiça”, relatou Moro. (Leia a íntegra aqui).
No dia seguinte, 23 de abril, ao ser informado pelo presidente que Maurício Valeixo seria exonerado do cargo, Moro se encontrou com Braga Netto e Augusto Heleno para informar os motivos pelos quais não aceitaria a substituição e declarou que deixaria o governo falando a verdade sobre a troca.