A possibilidade de uma piora ainda maior das expectativas inflacionárias, em meio à alta conjunta do petróleo e do dólar, e uma nova onda de rumores sobre eventual extensão do auxílio emergencial levaram os juros futuros a subirem mais um degrau nesta segunda-feira (11).
As taxas avançaram ao longo a curva a termo, tendo registrado novas máximas durante a tarde, em meio à aceleração dos ganhos da moeda americana, com a taxa de câmbio tocando o patamar de R$ 5,53, e a piora das bolsas aqui e lá fora. Mesmo com arrefecimento do ímpeto no fim da sessão regular, os contratos ainda encerraram o dia em alta.
Entre os longos, DI para janeiro de 2025, que bateu 10,12% na máxima, fechou com taxa de 10,07% (ante 9,99% no ajuste anterior). Já o DI para janeiro de 2027 subiu de 10,43% para 10,51%. (máxima a 10,54%). Na ponta intermediária da curva, o DI para janeiro de 2023 fechou a 9,05%, ante 9,02%.
Na véspera do feriado de Nossa Senhora Aparecida (dia 12), o mercado trabalhou em ritmo lento e com liquidez reduzida. A ausência do referencial das taxas dos Treasuries, que não foram negociadas em razão do feriado nos EUA (Columbus Day) também inibiu o apetite por negócios.
“As taxas futuras acabaram um pouco mais esticadas hoje com o receio dos investidores com o risco fiscal após novas notícias de que o governo quer ampliar o auxílio emergencial. Outro fator foi a piora nas expectativas de inflação no Boletim Focus”, afirma Zeller Bernardino, especialista da Valor Investimentos, acrescentando que o dia foi marcado também pela alta das commodities.
Reportagem do jornal Valor Econômico afirma que o governo poderia acionar a cláusula de calamidade pública para estender o auxílio emergencial, que fica fora do teto de gastos e foi adotado para lidar com a queda de renda das famílias em razão da pandemia. À espera da aprovação da PEC dos Precatórios, que tramita em comissão da Câmara, e da reforma do Imposto de Renda no Senado, o governo ainda não tem como compatibilizar a adoção o Auxílio Brasil, a nova versão do Bolsa Família , com o respeito ao teto de gastos.
No relatório Focus, o mercado revisou para cima a projeção para IPCA deste ano de 8,51% para 8,59%, e para 2022, de 4,14% para 4,17%. A mediana da projeção para Selic em 2021 segue em 8,25%, mas para 2022 subiu de 8,50% para 8,75% ao ano.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sachez, destaca que a mediana do Focus para a Selic em 2022 (8,25%) ainda está abaixo de sua projeção para a taxa básica no ano que vem, de 9,25%. “Acreditamos que ainda há espaço para avanço das expectativas de Selic em 2022 e, a partir daí, poderemos ver um arrefecimento das expectativas de inflação para 2022”, afirma Sanchez, em nota.
O chefe da área de estratégia da Renascença DTVM, Sérgio Goldenstein, observa que a curva a termo mostra a Selic em cerca de 8,25% no fechamento deste ano, 9,75% no fim do 1º semestre de 2022 e 10% ao término de 2022. “Trata-se de uma trajetória acima da mediana da pesquisa Focus”, afirma, em relatório, Goldenstein, que trabalha com Selic em 9% no fim do atual ciclo de aperto monetário, após mais duas altas de 1 ponto porcentual e uma elevação final de 0,75 ponto no encontro do Copom em fevereiro de 2022.
Goldenstein ressalta que no início de 2022 o BC já estará mirando o IPCA de 2023, cuja projeção está dentro da meta. Além disso, o Copom vai poder contar com os “efeitos defasados” da política monetária, o início da dissipação dos choques de oferta e a desaceleração da atividade econômica. “Por outro lado, os principais riscos seriam a adoção de medidas fiscais populistas e a continuidade do movimento de depreciação do câmbio e de piora das expectativas de inflação, o que provavelmente levaria a um prolongamento do ciclo de aperto monetário”, afirma