Em depoimento à polícia, funcionárias da vítima alegaram participação da irmã da pecuarista no crime
A morte da pecuarista Andreia Aquino Flores, de 38 anos, pode ter uma das irmãs da vítima como cúmplice. Depoimentos das funcionárias da vítima – mãe e filha – que estão presas pelo latrocínio, confirmam participação da irmã da pecuarista no crime. Andreia foi morta por esganadura e asfixia no condomínio em que morava, na Chácara Cachoeira, no início da tarde de quinta-feira (28).
Nos relatos, a informação repassada aos policiais da Derf (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos) é de que a irmã de Andreia manteve contato com a funcionária envolvida no assassinato. A mulher é apontada ainda como amante de Andreia e chegou a relatar que recebia muita ajuda financeira da vítima para sanar as dívidas que tinha.
A funcionária chegou a trabalhar por 7 anos com a família de Andreia. A participação da irmã no assassinato teria acontecido após ela pedir ajuda para a funcionária da vítima, para que documentos de quitação de uma dívida fossem assinados. A dívida seria da venda de 400 cabeças de gado, em valor aproximado de R$ 8 milhões.
Conforme relatado pelas autoras do crime, a intenção da irmã de Andreia era de ‘dar um susto’ na vítima, mas não de assassiná-la. A irmã ainda teria dito para a funcionária que Andreia tinha problemas com bebidas e que ela deveria se aproveitar de um momento de vulnerabilidade para fazer com que a pecuarista assinasse os documentos. Para isso, ela receberia R$ 50 mil.
Com a proposta, a funcionária teria dias antes conseguido fazer com que Andreia assinasse os papeis. No entanto, a pecuarista acabou rasgando os documentos depois.
Andreia e a irmã eram investigadas pela Polícia Federal por contrabando de joias do exterior, além de tráfico de drogas. A família, envolvendo também a mãe das irmãs Aquino, tinha brigas judiciais por questões de herança, compra e venda de gado em valores que chegavam aos R$ 8 milhões.
O Midiamax apurou que as irmãs eram apontadas pela Polícia Federal como distribuidoras de drogas em um outro condomínio de luxo em Campo Grande. O cunhado de Andreia também era investigado. Há ainda a informação de que a família teria tentado assassinar um traficante para roubarem R$ 600 mil.
Ameaçada e injuriada
Em outubro de 2021, Andreia procurou a Polícia Civil para relatar que foi vítima de ameaças por um desconhecido. Ela recebeu mensagens de número desconhecido, pelo WhatsApp, exigindo R$ 40 mil pelo silêncio do suspeito. Caso contrário, o filho da vítima receberia fotos comprometedoras de Andreia.
Na ameaça, o autor dizia que a vítima tinha um prazo de meia hora para fazer a transferência do valor, ou as fotos seriam enviadas. A vítima não soube dizer na época se o autor do crime era um homem ou mulher.
Falso roubo foi planejado pela funcionária
Junto com a filha e o cunhado, a funcionária teria arquitetado o plano do falso roubo chamando o cunhado para executar o plano. O trio teria se encontrado em uma pastelaria, no Tiradentes, para acertar detalhes do plano, três dias antes. Mãe e filha ainda teriam ido até uma loja para comprar um simulacro de arma de fogo e um boné.
No dia do crime, as duas funcionárias foram até ao supermercado deixando o carro sem travar, para que o cunhado entrasse e fosse com elas até o condomínio. Ainda no mercado o cartão delas não teria passado pela compra de R$ 700 e Andreia, então, teria feito um PIX no valor de R$ 1 mil.
Quando chegaram ao condomínio, o homem desceu do carro com a sobrinha, enquanto a funcionária permaneceu no veículo, para ‘dar fuga’. Ela chegou a dizer em depoimento que pensou em desistir do crime, mas que o cunhado insistia. Ele ainda teria dito que, ao invés de exigir R$ 50 mil de Andreia, pediria R$ 80 mil, para que, caso fossem pegos, ‘o crime valesse a pena’.
Andreia estava na sala quando os autores entraram. O homem a agrediu, tampou a boca da vítima com um pano e a esganava. Ela acabou desfalecendo e, após perceber a demora a funcionária entrou na casa, encontrando Andreia já desacordada. Os suspeitos então levaram a vítima para o andar de cima.
A pecuarista foi colocada em um quarto, na cama, e a funcionária chegou a jogar água para ver se ela acordava. Os suspeitos fugiram e mãe e filha ainda mentiram sobre o sequestro.
O que as funcionárias disseram para a polícia
Assim que as equipes policiais chegaram no condomínio, as funcionárias disseram que tinham sido sequestradas no supermercado e obrigadas a levarem dois bandidos até a casa da vítima. Mas, foi descoberto pela investigação que as duas funcionárias teriam chamado o cunhado de 23 anos de uma delas para participar do falso roubo.
O trio pretendia obter uma importância aproximada de R$ 20 mil que deveria ser exigida da vítima mediante transferência bancária PIX no momento do assalto. Sobre outra investigação tocada pela Polícia Civil que tinha Andreia como autora, em relação a tentar mantar o ex-marido, o delegado Francis Flávio Tadano Freire, da Derf, confirma que existe a apuração, mas que não há relação com o crime desta quinta-feira (28).
Ainda segundo a polícia, a pecuarista tinha relação de anos com as funcionárias. Ela seria, inclusive, madrinha de um dos filhos das mulheres. As duas devem passar por audiência de custódia somente no sábado (30).
Investigada por tentar matar ex-marido
Vítima de homicídio Andreia, era investigada pela tentativa de homicídio contra o ex-marido, um empresário de Ponta Porã, a 346 quilômetros de Campo Grande. O Midiamax teve acesso a documentos relativos à investigação que tramita sobre Andreia e ainda outros familiares. Em janeiro deste ano, o ex-marido foi vítima de atentado quando estava na clínica veterinária que é proprietário em Ponta Porã.
Os pistoleiros dispararam contra a vítima, que acabou ferida e socorrida. O homem resistiu aos ferimentos e o caso passou a ser investigado como tentativa de homicídio. Andreia constava como suspeita do crime.
Além disso, em junho deste ano ela e outras familiares foram ouvidas pela Polícia Civil por suspeita de envolvimento no crime. A informação da investigação é de que pistoleiro teria sido contratado para cometer a execução. Mesmo preso, ele ainda estaria tentando cumprir com o acordo feito.
Ainda consta na investigação policial que o homem seria cobrado para cumprir o acordo ou então devolver o dinheiro pago pelo crime.